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domingo, 31 de julho de 2011

EQUILIBRANDO A CIRCULAÇÃO DA ENERGIA




Equilibrando a circulação da energia vital (prana) nos meridianos.


Os sábios chineses, observando a natureza, perceberam que tudo está em constante transformação. Dois princípios, ao mesmo tempo opostos e complementares, estão presentes em todos os fenômenos. Chamaram estes princípios de yin e yang.
Yin é o princípio feminino, cujos atributos são: a noite, o repouso, o que acolhe (receptivo), o sombrio, o vazio, a água, o interior.
Yang é o princípio masculino, cujos atributos são: o dia, o movimento, o que penetra (objetivo), o luminoso, o cheio, o fogo, o exterior
Estes princípios não são estáticos, mas estão em constante movimento, transformando-se um no outro. Quando o yang chega ao seu ponto mais alto, transforma-se em yin (como as lágrimas que surgem no auge de um ataque de raiva).
Assim como dias e noites se sucedem, também as estações do ano transformam-se umas nas outras.
Estas transformações não ocorrem caoticamente, mas observam leis naturais, que também regem a vida humana, como parte que somos da natureza.
Assim, temos nossa primavera, na infância, onde tudo é novo e fresco como um broto; temos o esplendor do verão, na juventude, o amadurecimento do outono na maturidade, e a época de recolhimento e preparação para a morte, no inverno da nossa velhice. A sabedoria consiste em conhecer e respeitar cada fase, extraindo da vida a beleza peculiar a cada estágio.
As peculiaridades de cada estação permitiram aos chineses da antiguidade correlacioná-las com elementos da natureza. Diga-se de passagem que eles davam a estes elementos o nome de “estados de mutação”, o que é coerente com a visão dinâmica do mundo que eles possuíam.
Estas energias fluem no organismo humano através dos meridianos, e é este ponto que nos interessa. Ao permanecermos em uma postura (asana), com a mente serena e concentrada, podemos sentir a energia vital fluindo através destes meridianos.
Quando sentimos dificuldade em permanecer numa determinada postura, isto pode indicar que o meridiano trabalhado na postura está bloqueado. A energia não consegue fluir livremente – temos uma condição de excesso de energia.
Quando a postura é executada facilmente, mas a mente não consegue ficar estável (como se não quisesse entrar em contato com “alguma coisa”), - ficamos impacientes para sair daquela posição – isto pode indicar que há falta de energia no meridiano em questão.
Quando a energia vital flui livremente por um meridiano podemos sentir seu fluxo e há prazer em permanecer na postura, por períodos cada vez mais longos – a postura se torna “estável e confortável” – este é o ideal preconizado por Patanjali no “Yoga Sutras”.


Cada meridiano está relacionado a um tipo de emoção; conhecendo seu estado energético nos tornamos mais conscientes de nossos estados emocionais e podemos trabalhar para equilibrá-los.
Por tudo isto, acredito na importância de trabalhar com consciência nossos meridianos, permanecendo nos asanas. Escolhi refletir sobre cada estação do ano e os meridianos ligados a ela.


Primavera
Nesta estação do ano a vida brota na natureza, após o descanso do inverno. A energia que estava sendo cuidadosamente armazenada pelas plantas irrompe, gerando os brotos e uma nova vida.
Em nosso organismo (e em nossas vidas) é o tempo de transformar, depurar o “velho” para que brote o “novo”. Nossa energia se volta para o movimento, a ação, a realização daqueles projetos que idealizamos no recolhimento do inverno.
O elemento que predomina nesta estação é a Madeira (as árvores e plantas que se renovam) e os meridianos ligados a esta energia são os relacionados aos órgãos do fígado e da vesícula biliar.
A energia vital fluindo livremente por estes meridianos gera a capacidade de fazer opções, decidir entre diferentes caminhos/projetos.
É a época em que temos o impulso de realizar coisas no mundo, de exercer nossa capacidade criativa para transformarmos a nós mesmos e a nossa realidade. Por estarem ligados ao crescimento, ao movimento, fígado e vesícula biliar (F/VB) regem nossos músculos e tendões.
A emoção ligada a eles é a raiva, que nada mais é do que um impulso para o movimento, para realizar uma expectativa, que nós bloqueamos. Geralmente a raiva parece ter uma causa externa – uma pessoa, ou uma situação “criaram” a raiva dentro de nós -, mas se analisarmos esta emoção do ponto de vista de nossa vontade de alterarmos a vida de outros para nos sentirmos bem, veremos que ela brota de uma expectativa interior que não foi concretizada.
Podemos sentir a energia fluindo pelos meridianos de F/VB quando permanecemos em posturas laterais, por exemplo, Uttitha Trikonasana, Parighasana, Uttitha Parsvakonasana.
A energia de cada meridiano pode também ser equilibrada por cuidados relativamente simples com nossa alimentação, bem como cuidando de nossa vida anímica.


Alimentação
Uma vez que o organismo está se depurando é importante não sobrecarregá-lo com excesso de gorduras, proteínas de origem animal e alimentos pesados em geral.
Ajudam a equilibrar a energia os brotos, as folhas tenras, miúdas (salsinha, manjericão, orégano), as folhas verde-escuras, como rúcula, agrião, couves.
O sabor ligado a estes meridianos é o ácido, que nesta estação deve ser usado com cuidado, para não provocar excesso de energia. Utilizadas com equilíbrio as frutas ácidas (laranja, mexerica, abacaxi...) ajudam a harmonizar a energia do fígado.


Alimentos anímicos
O contato com a natureza, que está exuberante na primavera, equilibra a energia de F/VB. Toda atividade que nos permite desenvolver nossa criatividade, bem como o contato com pessoas criativas e calmas, também favorece esta energia.
Como o elemento Madeira tem uma natureza ascendente, a prática da meditação ou a busca de um caminho espiritual (não necessariamente uma religião formal) cooperam com a sua harmonização.
Alguns indicadores de desequilíbrio nos meridianos de fígado e vesícula biliar: falta de vontade, irritabilidade, tendência a gritar e/ou a chorar por qualquer coisa.


Verão
O elemento preponderante nesta estação do ano é o Fogo, que ao mesmo tempo aquece e ilumina.
Na primavera vários brotos surgiram, semelhantes entre si, frágeis, exigindo força para sobreviverem e crescerem. Agora, no verão, as coisas ficam claras, diferenciadas. Já sabemos quais brotos conseguiram crescer, quais morreram; em nossas vidas temos consciência de quais são os projetos em que realmente querermos continuar investindo. Temos clareza do que “vale a pena”.
Esta escolha é feita pelo nosso coração; por mais que a razão nos diga que o caminho x é mais seguro, ou melhor, se nosso coração não está aí, dificilmente teremos êxito. Porém, esta escolha do coração não é cega, passional, mas está ancorada nas necessidades da nossa alma, do nosso centro, e é baseada na intuição – a capacidade de ver mais longe e com mais clareza, além das limitações do ego e da mente racional.
Os meridianos ligados à energia do fogo são coração e intestino delgado(C/ID). Através da circulação do sangue eles também fazem circular o calor e o entusiasmo por todo o nosso organismo. Sem este entusiasmo não nos seria possível continuar com os projetos que iniciamos na primavera. A generosidade e a compaixão também se relacionam com estes meridianos; costumamos dizer que uma pessoa tem “um bom coração”, ou “um coração de pedra”.


Podemos sentir a energia vital fluindo por estes meridianos quando permanecemos em posturas como: Gomutkhasana (a postura da cara da vaca), Baddha Konasana.


Alimentação
O sabor ligado ao elemento fogo é o amargo; devemos ingeri-lo com cuidado durante o verão. Um pouco deste sabor estimula a energia de C/ID, mas seu excesso descontrola o ritmo do coração e a temperatura dos órgãos.
Frutas e frutos frescos e suculentos, saladas coloridas, de preferência preparadas cruas e temperadas com pouco (ou nenhum) sal, vegetais ligeiramente refogados, ou cozidos no vapor, fazem muito bem a esses meridianos. Como a energia do fogo está ativada, devemos evitar cozinhar demais os alimentos, pois isto ativa ainda mais esta energia, podendo gerar excesso.
Alimentos amargos, como:jiló, couve, chicória, serralha, catalônia, raditi, escarola, folhas de cenoura, etc.. estimulam a energia de C/ID. Devemos evitar o seu excesso.


Alimentos anímicos
Estando o coração ligado aos sentimentos, ao calor humano, sua energia harmoniza-se quando convivemos com pessoas amorosas, compassivas, bem como desenvolvemos em nós mesmos estas virtudes. Tomar banhos de sol (antes da 11 h e após as 15 h). Contemplar o nascer e o pôr do sol, permitindo maravilhar-se com estes espetáculos, cuidar do aconchego do nosso lar (ter flores em casa ajuda a equilibrar a energia do coração).
As emoções ligadas a esses meridianos são a sinceridade amorosa e serena, a compaixão e a generosidade.
Em desequilíbrio esta energia gera histeria ou uma tristeza permanente (luto).


Alto Verão
Este período corresponde ao final do verão, onde se inicia a passagem das estações de características mais yang (primavera e verão), para as estações mais yin (outono e inverno). A energia vital passa por uma fase de centralização.
Em nós a terra é o centro do corpo: timo, estômago, pâncreas e baço(E/BP), umbigo.
É o centro da atividade mental: ideias e opiniões, capacidade de reflexão. É o centro do espaço que nos envolve: carne que reveste os nossos ossos e músculos, que nós dá uma aparência e identidade corporal. O elemento desta estação é a Terra; em equilíbrio faz com que fiquemos em paz com quem somos, e nos sentimos em casa onde quer que estejamos, pois sempre estamos em nossa própria casa/corpo/mente.
A boca, os lábios, tudo ligado ao comer, mas também ao sorrir, cantar, se comunicar, está ligado à terra. Os meridianos relacionados a esse elemento são estômago e baço-pâncreas. A assimilação daquilo que ingerimos, bem como das experiências que passamos, está ligada a estes meridianos. A capacidade de aceitar as pessoas, “assimilá-las” (compreendê-las), também tem a ver com a energia de E/BP.


Podemos sentir a energia fluindo por esses meridianos quando permanecemos em posturas como o Virasana e principalmente o Supta Virasana.


Alimentação
O sabor ligado ao elemento terra é o doce; quando ingerido em excesso gera desequilíbrios nos meridianos de E/BP. É preferível ingerir alimentos naturalmente doces, usando com cautela o açúcar (evitar o açúcar refinado).
Alguns dos alimentos que favorecem estes meridianos: carboidratos complexos, fornecidos por cereais, feijões, tubérculos, raízes, bulbos, cebola, abóbora, nabo, beterraba, maxixe, inhame. Também é bom utilizar temperos: louro, coentro, açafrão, hortelã, cominho, alecrim, sálvia, cravo, canela, etc... As frutas amarelas ou amareladas também são bem-vindas: laranja, lima, maracujá, mamão,... in natura ou em forma de sucos.


Alimentos anímicos
O contato com a terra, seja cuidando de uma horta, jardim, ou mesmo de um vaso de plantas, harmoniza a energia dos meridianos de E/BP.
Caminhadas em ritmo acelerado, por mais ou menos 40 minutos, auxiliam a manter em equilíbrio a energia do elemento terra.
Cuidado com a boca: comer demais e abusar de açúcar são os pontos fracos nesta estação do ano.
Como o alto verão marca a passagem para as estações de energia mais yin, é saudável começar a preparação para esta fase, fazendo períodos diários de meditação, ou tirando alguns momentos do dia para atividades voltadas para a interiorização.
Alguns sinais de desequilíbrio em E/BP são: depressão, tendência exagerada ao isolamento, ansiedade, falta de paciência e de perseverança, pressa constante, comportamento obsessivo, neuroses.


Outono
Entramos num período de recolhimento, nos preparando para enfrentar o inverno. É a época em que colhemos aquilo que estivemos cultivando desde a primavera. Tempo de alegria e de compartilhar; não semeamos e nem cuidamos sozinhos daquilo que foi plantado. Quer tenhamos consciência ou não, sempre há companheiros de jornada; às vezes, aquele que apontou falhas e criticou nossos projetos foi nosso melhor mestre. Nossos filhos são também grandes mestres quando (especialmente na adolescência) nos apontam características nossas que nos desagradam.
Enfim, há muito para auto-observar, não para se punir ou sentir diminuído, mas para desenterrar os tesouros ocultos dentro de nós e lapidá-los.


O outono está relacionado com o elemento Metal, que se encontra no interior da terra e exige esforços para ser extraído. Os meridianos ligados a este elemento são pulmão e intestino grosso(P/IG).


Podemos sentir a energia fluindo por eles quando permanecemos no Tadasana (postura da montanha), Virabhadrasana.


Alimentação
O sabor ligado ao metal é o picante; seu excesso pode desequilibrar P/IG.
A energia do metal é de natureza seca e pesada, portanto podemos equilibrá-la com alimentos de natureza leve. Assim sendo, devemos tomar cuidado com açúcar e laticínios, cujo excesso de consumo, nesta fase, aumenta a produção de mucos, prejudicando o intestino (diarréia, gases) e os pulmões (resfriados, sinusites, rinites, ...)
Cooperam com a energia do metal: raízes, como cenoura, nabo comprido, bardana, lótus, mandioquinha, e os sabores picantes dos temperos – cebola, alho, gengibre, salsão Caldos com missô ajudam a limpar os pulmões e beneficiam a flora intestinal. O chá verde (Ban-chá) também favorece o intestino. O mel de abelhas é o melhor adoçante para esta fase.
Como a energia do metal é seca o organismo pede muita água durante o outono.


Alimentos anímicos
A energia se harmoniza, nesta estação, através do contato com as montanhas, grutas, as pedras de onde brotam água, as cachoeiras.
É tempo de refletir sobre aquilo que plantamos e colhemos, pranteando as nossas perdas, para deixar que elas se vão. Através da paz e tranquilidade vamos adquirindo interiormente a certeza de que só aceitando as perdas haverá renovação
Quando em desequilíbrio, a energia do metal gera: dificuldade de desapegar-se (no corpo isto se converte em prisão de ventre), mágoa, ressentimento, desejo exagerado de manter tudo e/ou todos sob controle, o que torna impossível relaxar e fluir com a vida.
Inverno
A estação onde a energia se recolhe para o interior; época em que necessitamos de repouso e do aconchego das pessoas que realmente amamos.
Não é uma época para contatos sociais superficiais (festas, badalações), que cabem melhor na primavera e no verão, pois no inverno estamos mais emotivos e precisamos de intimidade e de relacionamentos baseados na sinceridade, na nossa verdade interior.
O inverno esta relacionado com o elemento Água, que flui ininterrupta e tranquilamente, contornando os obstáculos, buscando o caminho de menor resistência. Assim também são nossas emoções – fluindo espontaneamente quando em equilíbrio. Os meridianos ligados a este elemento são rins e bexiga (R/B).


Podemos sentir o fluxo da energia através deles quando permanecemos em posturas como: Paschimottanasana, Halasana, Pada Hasthasana.


Alimentação
Nesta estação o elemento fogo está mais escondido, por isto precisamos de mais calor em nossa alimentação. Podemos acrescentá-lo utilizando alimentos assados ou que exijam maior tempo de cozimento.
O sabor ligado ao elemento água é o salgado; seu excesso pode prejudicar a energia de R/B.
Como a água já é fria e úmida, convém moderar a ingestão de alimentos desta natureza. É o momento de utilizar na alimentação as frutas secas – uvas passas, nozes, amêndoas, avelãs, sementes de abóbora e de girassol, castanhas, amendoim (cuidado para não salgá-los). Também vão bem as raízes, especialmente nabo, bardana e cenoura, os feijões em geral, deixados de molho na véspera e temperados com sementes torradas e moídas: coentro, mostarda, e ervas aromáticas – cebola, alho e gengibre.
Cuidado com o excesso de produtos de origem animal, que sobrecarregam a energia dos rins; prefira peixes pequenos de água salgada (sardinha, manjuba, ...)


Alimentação anímica
O repouso, a contemplação, o livre fluir da vida – sem planos e sem temores. A água está relacionada com a sabedoria, que reconhece a impermanência de todas as coisas. O afeto não pode ser comprado ou barganhado, e no entanto ele é a única fonte real de felicidade nesta vida passageira. Contemplando a natureza, a beleza que reside na simplicidade de nossas crianças, desenvolvemos uma sensação de humildade e de gratidão.
Em desequilíbrio R/B geram o medo que contamina tudo na nossa vida, impedindo o raciocínio objetivo, criando o pânico. A ansiedade é uma forma difusa deste medo, pois ela nos leva a querer trazer o futuro para o presente, para controlá-lo, evitando surpresas que gerariam o medo. As dificuldades nos relacionamentos afetivos muitas vezes nascem deste mesmo medo de se abrir para o desconhecido; criamos uma imagem ideal do “outro” e nos relacionamos com ela, para nos sentirmos seguros. Quando endurecemos nossos sentimentos acabamos criando pedras nos rins, pois tudo que não flui endurece ou apodrece.

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